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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O TESTEMUNHO DE UM AMIGO


Ao tecer estas considerações sobre o ressurgimento em cena deste disco do meu amigo NITO faço-o com a conviccão de prestar um modesto testemunho à pessoa desta brilhante figura da música popular angolana, não pelos seus feitos, ao longo dos anos, mas principalmente pelo seu extraordinário talento.
Nito tal como alguns guitarristas angolanos inicia-se nas lides musicais executando um instrumento de percussão - as congas ou tambores - num grupo do bairro Marçal, nas tradicionais “turmas”, denominado “Os Morenos”. Integravam-no meia dúzia de “imberbes”, como ele próprio diria. É na intensidade do convivio com a nossa música que descobre a apetência para outro instrumento: a guitarra! A guitarra atraía-o sobremaneira e na sua meteórica passagem pelo Bossa 70 com a ajuda do solista Benvindo (Indio), irmão do Brando dos Kiezos, começa a exercitar os primeiros acordes. Foi entretanto sob o olhar criterioso de um familiar, de nome, Adolfo (o irmão cassula do lendário guitarrista Duia), que recebe e aprofunda os seus conhecimentos do novo instrumento. E a magia acontece. Alguns meses depois vêmo-lo ocupar o lugar cimeiro no grupo “África Ritmos”, se entendermos que lugar cimeiro era na tipologia musical da altura assumido pelo guitarra solo. Os seus voluptuosos acordes despertariam as atenções, tendo a crítica reconhecido que o seu talento não se podia confinar ao grupo do Bairro Operário. José Massano Júnior far-lhe-ia um tentador convite e o menino do Marçal passa a integrar o lote de vedetas do grupo “África Show”. A partir daí assistimos a uma verdadeira explosão de criatividade que daria origem a instrumentais como “Noite de Harmonia”; “Inspiração de Nito”; “kazucuta para Jofre” e outros sabores rítmicos que punham em delírio os indefectíveis do “África Show”.
Nito fazia as delícias da época com os seus improvisos à viola, surpreendendo tudo e todos. As principais bandas tinham-no como adversário de respeito. Marito de “Os Kiezos”, Zé Keno de “Os Jovens do Prenda”; Mário Fernandes de “Os Negoleiros do Ritmo”, Constantino de “Os Aguias Reais” eram as top stars da guitarra solo do momento e nunca cogitaram a possibilidade de partição do prestígio. Passaram a contar com mais um rosto na lista dos talentosos.
Senhor de grande poder de improvisação, de uma dinâmica rítmica peculiar, Nito foi passeando o talento em inúmeras composições e obras discográficas que fizeram história, e atigiram o auge no Agrupamento Kisanguela.
O agrupamento Kisanguela constituiu-se no marco das novas sonoridades e das novas construções melódicas da música angolana, que infleunciaram em definitivo na introdução dos instrumentos e concepções modernos na música popular Angolana(Como publicamente reconheceu o Dr Boaventura Cardoso, então nas vestes de Ministro da Cuktura da Republica de Angola, numa cerimónia de Homenagem ao histórico Agrupamento musical)

Nito, detentor de uma invulgar capacidade de arranjador e de uma irreprensível execução, assente em acordes especiais, envoltos em malhas rítmicas muito peculiares, fora do alcance dos plagiadores, foi o principal timoneiro dessa histórica acção do Kisanguela.
Seis long plays e um indefinido numero de inéditos registados na CT1 da Rádio Nacional de Angola deixou para a história o renomado Agrupamento musical, e nessas obras, Nito afirma-se como um estilista arrasador, autor de uma forma refinada e metamorfoseada de extrair sons à guitarra.
Ao retornar às lides, depois de uma longa ausência (mais de 30 anos) por razões profissionais, Nito faz a sua reentré com um álbum a solo, onde para a nossa surpresa, deixa transparecer um grande espírito de jovialidade e clarividência artística, próprios dos grandes mestres.
Com “novos rumos”, Nito retorna à ribalta, como um refinado construtor de melodias, marcando presença num palco onde os protagonistas são hoje outros. Por isso este albem tem um sabor especial. Tem subjacente o espírito de missão que caracteriza os grandes homens. As novas gerações sobre ele se debruçarão certamente. O álbum em questão representa como ele próprio diz em breves palavras o “um modesto contributo ao resgate” do que são as nossas raízes, sem perder de vista a visão universalista que completa a nossa vivência enquanto seres deste mundo.
Esperemos que este novo percurso, resulte em outras propostas, que, estamos certos vão tocar fundo, na alma dos que não acredita(va)m ser possível repetir a história.
DIAS DOS SANTOS
Lisboa, aos 10 de Março de 2009

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