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segunda-feira, 5 de abril de 2010

COmSOLOS DE UM AMIGO DESCONHECIDO



Pus-me a ouvir o triplo álbum do Kisangela numa feliz reedição da Rádio Nacional de Angola. As lágrimas corriam-me pelo rosto abaixo. Tomado por emoções de quem um dia teve uma colecção invejável de discos. Nem me quero lembrar da perda que representou o desaparecimento desses discos

…Café é um belíssimo tema do segundo disco da referida colectânea. Nele notam-se ressonâncias de uma construção melódica inspirada em Franco e OK Jazz. Nos meus tempos de recruta, sempre que ouvisse o fraseado da guitarra executado pelo exímio solista do Kisangela reconstituíam-se as imagens da viagem à Ganda para a primeira campanha de colheita do café realizada nos cafezais da Chicuma. Em meu entender, um dos temas mais emblemáticos desse lendário solista chamado Nito, de que já ouvia fa-lar antes de 1974, tem como título Cadência Harmoniosa. Na minha memória ecoam momentos fantásticos passados nos bairros do Liro, Académico, Canata, Caponte, no Lobito.

…As músicas gravadas pelo Kisangela marcaram-me profundamente. 

…O meu irmão que venerava o solista Nito, considerava-o mesmo excepcional, imitava o seu fraseado naquele tema dedicado ao povo de Cabo Verde: Solidariedade com povo caboverdiano.

Noel Vilyaneke in Semanário Angolense (Excertos)




Carissimo Vilyaneke
Li e reli o seu texto publicado no semanário angolense, intitulado “ Ao som do Kisangela lembro-me do que vivi”.
Resolvi, depois de muita meditação , enviar-lhe este email para:

Primeiro agradecer-lhe – gostaria de um dia poder fazê-lo pessoalmente, se merecer tal honra – pelas considerações públicas que fez sobre o meu desempenho como viola solo. Convenhamos que algumas considerações saíram emocionalmente desgarradas, como essa de “lendário solista”…

Segundo: Cumprir o dever de felicitá-lo por ter tido a coragem de espicaçar num tema que por enquanto parece tabu: O Kisangela e a história recente de Angola.
É que embora sendo o Kisangela, objectivamente, no mínimo, para a geração que defendeu a Pátria da divisão e invasão estrangeira, o que o Ngola Ritmos representa para a geração que nos anos sessenta se levantou contra o colonialismo português, ainda há mentes atrofiadas e enferrujadas que sentem tormentos e pavor quando se fala do Kisangela. Incompreensivelmente!!!

Terceiro: A incursão sapiente que fez pelos labirintos da musica na formatação das pessoas, soou-me a ralhete à alunos distraídos. É que por esse andar qualquer dia vamos ter de passar a repetir até a exaustão o slogan: Nem só do pão vive o homem!

Brevemente porei no mercado o meu primeiro disco a solo, com musicas inéditas. Permita-me que lhe ofereça um exemplar ornamentado com o meu autógrafo. Me cobra, por favor!

Feliz Páscoa !

Kandandu
Belmiro Carlos (Nito)



Prezado senhor Belmiro,

Receba as minhas saudações na paz do senhor Jesus Cristo, nesta passagem pascal.

O texto que leu e releu é uma dívida de gratidão. Devo-lhe favores pelo serviço prestado à pátria, na sua qualidade de músico, numa fase crucial da construção do Estado angolano. Honra-me bastante esta mensagem que envia. Garanto-lhe uma coisa. O seu nome estará gravado de modo indelével na história cultural de Angola. Os feitos de pessoas não se apagam …

O senhor é um grande músico. Gostaria também de conhecê-lo. Mas tenho andado longe das grandes cidades….Havemos de encontrar-nos um dia ….Aguardo pelo disco que me promete.

Boa sorte para si.

Cordiais saudações,

Noel Vilyaneke

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