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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014






BELMIRO CARLOS
VIRTUOSO GUITARRISTA DO AGRUPAMENTO MUSICAL “KISSANGUELA”
 Instrumentista marcou o período áureo do célebre conjunto África Show


Jomo Fortunato|

20 de Janeiro, 2014



Fotografia: DR


Embora a percussão tenha sido a sua opção instrumental de eleição, no início da sua carreira, Belmiro Carlos notablizou-se como guitarrista, tendo deixado indeléveis marcas do  seu virtuosismo, enquanto compositor e  instrumentista, em momentos marcantes da história da Música Popular Angolana.

No período áureo dos conjuntos, Ngola Ritmos, Kiezos, Jovens do Prenda, África Show, Negoleiros do Ritmo, Ngoma Jazz, África Ritmos, Ébanos, Astros, Águias Reais, Bossa 70, Ases do Prenda e Merengues- citamos apenas as formações que ao longo da história tiveram relevância, consistência e comprovada notabilidade artística-os guitarristas solo, também designados simplesmente por solistas, eram muito respeitados, tanto pela generalidade do público, como no interior dos seus grupos. Houve inúmeros casos, em que a  liderança vocal passava despercebida, sobretudo no momento de exibição dos solistas,  transformando os cantores, em singelos complementos de palco. Mesmo na actualidade, os guitarristas são reconhecidos pela sua criatividade e contornos estéticos dos seus solos, peças que muitas vezes constituem paradigmas sonoros, facilitando a identificação das  canções que os suportam.

Filho de Domingos António Carlos e de Engrácia António Simão, Belmiro António Carlos, conhecido por Nito, sobretudo nos meios musicais, nasceu na maternidade de  Luanda, no dia 19 de Outubro de 1953.

Iniciado nas congas e depois nos tambores, Belmiro Carlos surgiu na música, em 1969, através da turma, “Os Morenos”, do Bairro Marçal.  A mudança da percussão para as cordas, aconteceu na sequência do seu convívio activo com a música, sobretudo quando da sua passagem efémera pelo conjunto Bossa 70, numa altura em que despontavam os solistas Duia, dos Gingas, Constantino, dos Águias Reais, Mário Fernandes, dos Negoleiros do Ritmo, Marito Arcanjo, dos Kiezos, e Zé Keno, dos Jovens do Prenda. 
No entanto, embora possua uma malha estética e sonoridade, únicas, Belmiro Carlos afirmou o seguinte sobre as suas influências: “Embora possa parecer presunçoso, a verdade é que a descoberta pessoal acabou por guiar a base do meu processo de aprendizagem.  No entanto, três nomes foram de suma importância no início da minha vida artística: Benvindo, também conhecido por Índio, o meu primo Adolfo, irmão mais novo do carismático guitarrista, Duia, e o grande Marito Arcanjo dos Kiezoz, que, curiosamente, morava próximo da minha casa”.

África Ritmos

Em 1972,  Belmiro Carlos era estudante da Escola Industrial de Luanda, e, de volta a casa, passava pelo Bairro Operário, local de ensaios do conjunto África Ritmos. Com a frequência do trajecto, conheceu o Kinito, tambores e vocalista principal do conjunto África Ritmos, que o convida a intergrar o grupo, primeiro como guitarra ritmo e depois solo, substituindo a guitarra do Constantino. No África Ritmos encontrou: o Chico Coio (vocal e dikanza), Pai Adão (viola baixo), e Balabina (viola ritmo), tendo gravado com os seguintes cantores: Corais, autor do tema “Belita”, canção que ostenta um histórico e belíssimo  solo de Belmiro Carlos, Pedrito, Taborda Guedes, Urbano de Castro, Tchinina, e alguns instrumentais como, “Pica o dedo”.  Depois foi a vez de integrar, em 1973, o conjunto África Show, convidado pelo lendário cantor e percussionista, José Massano Júnior, em substituição do guitarrista Baião. No África Show, Belmiro Carlos é autor dos temas: “Inspiração de Nito”, “Kazukuta para Joffre” e “Noite de Harmonia”.

Kissanguela

Em 1975,  Belmiro Carlos integrou o agrupamento musical “Kissanguela”, no período da canção política, como solista e autor dos arranjos das canções de Santos Júnior, Mário Silva, Calabeto, Artur Adriano, Avózinho, Tonito, Carlos Lamartine e Fató. Ainda no Kissanguela, participou, de forma desinteressada, nas várias campanhas de mobilização de massas, através da realização de espectáculos musico-culturais, nas cidades, no campo e nas frentes de combate. No conjunto da suas digressões, promoveu a imagem e cultura de Angola fora do País, tendo integrado as delegações oficiais do Primeiro Presidente de Angola, Dr. Agostinho Neto, a Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné Bissau e Bulgária.

Belos rumos
Depois de uma ausência de mais de trinta anos fora dos palcos, Belmiro Carlos reapareceu, em Dezembro de 2010, com o seu primeiro CD instrumental , “Belos rumos”, que inclui os temas: “Mirábilis”, “Beautiful”, “Tónicos de Semba”, “Cocktail”,”Doce Melancolia”,  “Luanda”, “Choros melódicos”, “Artefactos em sustenidos”, e “Silêncio sepulcral”. Em “Belos rumos”, Belmiro Carlos reafirma o seu talendo, enquanto criador único de melodias, revelando uma intimidade singular com a guitarra. “Belos Rumos” teve a participação da Banda Maravilha, Betinho Feijó, Gui Destino, e Dalú Roger. Sobre “Belos rumos”, Belmiro Carlos disse o seguinte: “Quem escutar serenamente Belos Rumos experimentará, infalivelmente, como eu e os amigos que me transmitiram as suas opiniões, depois de o escutarem incessantemente, uma sensação de descompressão emocional e de paz de espírito total. Daí o efeito terapêutico da música, que me sai da alma”. O guitarrista chileno, Fernando Gonzalez, fala em fluidez no íntimo como “tónicos de semba” e “felicidade tranquila”. O guitarrista está a gravar “Phrases mestiças”, um CD que tem a produção de Betinho Feijó, em fase de misturas e masterização.

Distinções
Em Dezembro de 2006, Belmiro Carlos  foi condecorado com a medalha do 50º Aniversário do MPLA, pelos  serviços prestados à Pátria. Actual Secretário Geral da UNAC, União Nacional dos Artistas e Compositores, eleito  em 2006, Belmiro Carlos foi jornalista, e dirigente sindical, tendo presidido o Júri da primeira edição do “Angola música Awards”, em Maio de 2013.

1 comentário:

  1. Quando tive contacto com o texto através do Jornal de Angola experimentei uma estranha sensação. Deleitei-me com a beleza estética do escriba, mas principalmente com a arrumação e a força tranquila dos conteúdos. Isso pôs-me a levitar. Um verdadeiro "Elogio in vitae". Obrigado Jomo!

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