Ainda bem que já lá vai o tempo em que os Homens
entendiam como uma fatalidade ser-se servo e, como obra divina , nascer-se no
seio das elites sociais.
Hoje é dado assente e pacificamente aceite , que a
faculdade de associação dos Homens em grupos de interesse, quer seja por razões
sociais, culturais, económicas ou políticas, representa uma conquista da
civilização moderna.
Independentemente da nossa condição social , religiosa, gênero, financeira, política, etc. etc., é
senso comum que todos podemos ter anseios diferentes, pensares diferentes, podendo
juntarmo-nos, associarmo-nos, para defender esses lídimos interesses .
Os Estados, as sociedades, as instituições, as pessoas
que não comungam desses valores e que inibem a sua prática através de métodos
discretos ou ostensivos de repressão , são apelidados de epítetos que
evidenciam a sua arrogância, intolerância, enfim a sua visão autocrática do
mundo.
Tudo isso para dizer que, nos tempos de hoje, constitui uma barbaridade e uma monstruosa ofensa aos direitos humanos, colocar
na corda bamba a carreira ou o futuro de um artista, que por convicção
doutrinal ou orientação sexual, tente desafiar o cambalacho da unicidade
discursiva oficial , incorporando, nos mesmos, os tenores e sopranos propositadamente
negligenciados.
Uma prática que , infelizmente . parece querer se instalar no País através de
alguns compatriotas embriagados com o poder de corrosão social do vil metal.
Por outro lado, os artistas passam um nítido sinal de
desunião e despreparo para o exercício da cidadania, ao colocarem-se no muro, a vêr a banda passar, como se “essa maka , não é minha” .
A Classe , continua a mostrar que tem dificuldade em se libertar das amarras das
tutelas, dos paternalismos, e por isso,
não se reencontra, não se organiza, não se une e não se defende de facto nem de
júri.
Sabemos que não é fácil reclamar e defender direitos numa altura em que se tem o estômago
a comandar a mente.
Todavia pode-se
parar com essa tendência e outras incongruências a que o Artista se encontra
exposto - sem grandes dificuldades –
pois que , basta que o mesmo passe a fazer depender as suas actuações,
exibições, participações e outras performances de um contrato escrito, analisado
e aprovado com o concurso do seu advogado, ou de gente que sabe do metier , onde
se precaverá dessas malabarices e de outras vigarices.
Contudo, e porque esse diabo que está entrando nas
casas dos vizinhos, pode também entrar
na nossa , o ideal seria mesmo que
encomendasse-mos um xinguilamento debaixo de uma frondosa mulembeira, onde todos e em uníssomo condenasse-mos com
veemência esses malditos actos, e demonstrasse-mos inequivocamente a nossa solidariedade
para com os colegas que gemem nas garras da intolerância.
UNIDOS SOMOS
MAIS FORTES!
Belmiro Carlos
Músico e compositor
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