Em
Angola vivemos num híper-atrofiado ambiente artístico-cultural.
As
leis produzidas para esse departamento, foram até aqui para “inglês vêr”.
Pura
cosmética, e da grossa , que até dá
vergonha.
Cosmética da Vergonha! Como chamo às longas extensões de cabelo
alheio que as negras - sonegando um dos seus mais genuínos e belos traços de
autenticidade - exibem com tal vaidade que , para além da vergonhosa reverência e veneração públicas que prestam à
outra raça, nos magoa a alma.
O
enfoque pode parecer exacerbado, mas calça bem à situação, e quem navega por essas águas, sabe o quão
turvas e como, em ebulição, se encontram.
Olhem
como são tratados os nossos talentos da velha guarda.
O
repositório humano, a biblioteca viva, a guardiã dos nossos valores e costumes
ancestrais?
A maior parte, se pretendermos medir o País
para além da Mutamba, está desempregada, ostracizada, na indigência social.
Vive
e morre sem honra nem glória.
Sem
a necessária e a competente solidariedade institucional, e ,por arrasto e
deformação da sociedade , vive hoje sem o apoio do showbiz (salvo honrosas
excepções) que , eufemisticamente os chama de “mais velho”, para cinicamente lhes bloquear no passado , tirar-lhes do
baralho da concorrência e apropriar-lhes
as obras. – só visto, contando...
Olhemos
mesmo para os novos grandes talentos. Os artistas, da música popular angolana,
pós independência.
O
que lhes oferece o actual ambiente artístico, em matéria de segurança social,
protecção profissional, direitos de autor, trabalho seguro e duradouro, enfim ao
futuro?
Tivemos
até aqui um Estado omnipresente que devido ao seu ADN não deu muita bola às
Leis que nesse domínio criou e promulgou. Um Estado que esteve mais preocupado em fazer, do que
fomentar cultura. O que fez mal como é óbvio e foi expectável.
Um
Estado que não conseguiu arbitrar a
favor da implantação organizada da Classe, e da participação efectiva dos entes
privados na massificação da actividade artística no País.
O próximo
Estado Cultural precisa de se projectar para uma dimensão e perspectiva com diferentes parâmetros organizacionais.
Para
isso é imperioso que, nesse domínio, sem
mais titubeações, o mesmo abrace também e apenas a sua função reguladora.
Que reúna
capacidades técnicas e de recursos humanos, para encorajar e liderar o
surgimento de um movimento associativista forte, participativo e representativo
da Classe, capaz de ajudar o Estado na organização e fomento das artes, em
todos os cantos do País.
Através de Planos concrectos de fomento
artístico, empréstimo bancário , e, incentivos financeiros e aduaneiros, o Estado
deveria fazer surgir uma robusta e inclusiva rede nacional de empreendedores
culturais, para intervir na correcção da descriminação e assimetrias, provocadas
pela gestão oligárquica e elitista do nosso panorama artístico-cultural.
Fazer emergir espaços culturais comunitários e
lugares nobres nos grandes centros urbanos , deveria ser uma empreitada que o
novo Estado deveria assumir de forma inequívoca, como se fez no desporto , na rodovia, na pesca, na
indústria, etc. etc.
Que
o novo Governo da República oiça a nossa prece!
Belmiro
Carlos
Músico e compositor
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