(...e
o artista , sorridente, visivelmente emocionado, vangloriando-se, disse na nossa
TV: “os brasileiros me disseram que eu
faço música chiclete” – santa ignorância.)
Uma
família , um casal de meia idade com os dois filhos, de 11 e 15 anos, mais a
sogra , dele, depois do habitual culto religioso de domingo de manhã resolve
fazer um passeio higiénico lá para as bandas de Cacuaco.
Apesar
das mulumbas da dita auto estrada, curtiam o banzelo, no conforto e na estereofonia de um desses V8 que “nos
atrofia”.
No
interior da viatura, interagia-se descontraídamente. A música “ parecia comida”.
Grandes mundos! Clássicos angolanos!
De
repente o ambiente é invadido por palavrões que ostensivamente fazem apelo a pornografia e a violência gratuita: “... trabalha só com o
rabo... só quero o rabo... vou te matar... vou se suicidar...
Os
Jovens manos entreolham-se de imediato, mas reprimem o desejo de entrar na “safadeza”, ao lado dos mais velhos.
Tudo
se petrifica, entretanto. O ambiente fica fúnebre.
É
visível , a preocupação e o mal estar , nos rostos do casal .
A sogra
não esconde a sua revolta pela intrusa e inoportuna canção e interpreta como cúmplice o sepulcral
silêncio (tipo estão a gostar) , e com o
muzumbu afiado vai lançando umas olhadas e muxoxos, no vazio.
Os
jovens não estão nem aí e embora e a
muito custo continuam a abafar o canto, gesticulam
os braços e marcam a cadência da estridente e desconfortável música, com a
cabeça .
Para
o casal, esses primeiros segundos da música parecem uma eternidade. Têm em mãos
os instrumentos para parar o rádio ou muda-lo de frequência, mas não o fazem
com o receio do gesto provocar ainda mais estragos nas ingênuas mas férteis cabeças
dos filhos, ou de provocar uma inquisitória conversa com a “própria sogra” a propósito dos
valores na família, que ela vem
questionando já a algum tempo.
A
mente e o coração do casal sofre com as pancadas dos vibrantes decibéis que só aparentemente
subiram de intensidade. Os mesmos rezam para que a música não resvale totalmente para a habitual
incontinência verbal.
O
fim dessa estória , depende da sentença do caro leitor.
Todavia
na nossa vida real, essa história está
acabando de forma dramaticamente aterrorizadora e muito fora do nosso
controlo.
A
nossa sociedade está doente. Daí que os nossos artistas particularmente os da
nova vaga (salvo raríssimas e honrosas
excepções), , sem pejo nem pudor fazem leviana
e frequentemente recurso a obscenidades nas letras das suas canções ou nas suas
danças, quando não às duas coisas , e usam-nas em qualquer espaço: na TV, na
Rádio. nos espectaculos, etc. . Não importa se
a performance se destina aos adultos
ou a criança.
Por força dessa promiscuidade, os papás , as mamãs, os filhos
e os netos, juntos, na mesma roda,
“adoçam” as músicas e as danças com disparates como:... é grande, ... é
pequeno, ... é larga , ...é funda, ...tira, ...põe, ...com força, ...devagar, ...abre,
fecha, ...lhe mata, ...lhe pisa, ...se mata ...
A situação parece estar fora de controlo. Os estragos estão
aí a vista de todos: violações de todo o tipo, infidelidades conjugais
mirabolantes, linchamentos com enredos que dão capote aos grandes realizadores
de Hollywood,
enfim, um verdadeiro mundo cão, que é preciso corrigir, porque isso está muito mal.
O
propósito deste texto não é como é óbvio insinuar que se extirpe do mundo
artístico, quem se predispôs a fazer ou a promover música chjclete, do tipo
pornográfico ou de matiz que pensamos
reservada.
Há
que encarar de frente o fenómeno, que por sinal não é exclusiva de Angola.
A experiência
de outros povos , civilizados, aconselham-nos a darmos uma atenção e um tratamento , especial ao caso , de modos a
equilibrarmos os interesses em presença sem prejuízo para uma sã educação moral e cívica da sociedade.
Assim,
o Estado talvez devesse começar por “classificar” as actividades, os recintos, os
programas de Rádio e Tv, as músicas, etc.,etc., ( como infantil,... para
maiores de.., , e por aí adiante) , e em função disso regular, disciplinar o
acesso aos mesmos .
Naturalmente,
que devem existir outros caminhos !
Que
venham daí então. Porque o que é verdade é que necessitamos urgentemente de
medidas administrativas, politicas , policiais , “militares” (anyway), para que
as nossas festas familiares , os nossos espectáculos públicos, os nossos
centros recreativos, os programas de Rádio e Tv , etc., não se confundam com prostíbulos ou coisas do
género, que atrofiam a sociedade, particularmente a educação das nossas
crianças.
Haja valores
!
Belmiro
Carlos
Músico
e compositor
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