Paira sobre o País uma atmosfera de partículas cheias de almas que nos parecem virginais, exaltando canções do alvorecer da Pátria ,
então congelada num concentrado de egoísmos desenfreados. de gente que
acreditou, reter ad aeternum, os céus
e a terra de todos “os outros”.
Desde a entrada em cena da “Perestroika” e da famigerada economia de
mercado, com as suas tristemente celebres crises e abalos sociais, no compasso
de um genuíno capitalismo selvagem, que
o Artista em Angola não conhece uma política estruturante gizada a juzante e a
montante das suas reais necessidades.
Foram literalmente frustradas, todas as tentativas de
implantação de projectos de curto e médio prazos, de impacto social e
profissional, real e duradouro, para o fomento da actividade artística e
inserção social imediata do Artista, que sabemos ter-se tentado neste País.
Cínicamente, foram apoiados projectos que acirraram a
intriga , acentuaram a desunião,
e corroeram o sentimento de Classe.
Propositada e ostensivamente confundiram a árvore com a floresta.
Desse modo, elegeram e municiaram uns tantos artistas,
a maior parte de qualidade técnica e moral duvidosas, que passaram entretanto a ser exibidos como
raridade e sumidade artística.
Para sustentar a farsa, foi posta em marcha uma
monumental máquina de lavagem cerebral.
De tão plástica, a cosmética resultou numa guerra sem rei nem roque. Como
era expectável.
Tal foi a promiscuidade , que, o pré-concebido plano
de divisão do mercado artístico angolano ,
assumiu e introduziu,
naturalmente, regras tão perversas e amorais como: o teste do sofá, a
constituição de grupos herméticos, os monopólios e oligopólios, a lei da rolha,
a adulação a pessoas... Nunca antes visto!
Enfim, os
artistas ficaram indefesos e passaram a ser um
mero produto descartável, “entregues ao cordeiro”, como escória social.
E, instalou-se, assim,
o mercado de opacidades artísticas que estamos com ele.
O artista, para sobreviver, passou a estender as mãos
aos seus próprios carrascos , sacrificando mesmo os seus pares, quando
necessário. Outros , pura e simplesmente, retraíram-se ou abandonaram o mettier
e engrossaram a bicha, no muro das lamentações .
Nesse atormentado ambiente, as expressões artísticas
da nossa angolanidade, porque não serviam os macabros desígnios da entourage, foram
desactivadas e desencorajadas.
Luanda, ficou transformada num caldeirão de insanos e
insaciáveis tubarões que mantêm sob mira, incautos artistas que ensanduichados
no funil, lutam desesperados, por uma nesga
que lhes permita chegar ao podium da fama, mesmo que podre.
Alienação total!
Vénias à mediocridade!
Rochar não são “esperanças
idosas” , mas sim sinónimo de fracasso total.
Viva o facilitismo, a xuxa da comadre, o dólar do
imperialismo americano!
Viva o hip hop, o RAP, o Zouk, o R&B e ... o
Kuduro !
Abaixo o Sêngula, o Kilapanga, o Kintueni, o Sungura, o
Tchiyanda, o Semba...
É nesse clima que a partir de Luanda foi alimentada
uma visão egocêntrica da nossa cultura,
passando-se a ideia de que só é comercial e culturalmente válido o que é
produzido na capital do País, com todos os prejuízos político-culturais, morais,
sociais e económicos daí decorrentes.
Deixou de haver acções práticas, assentes em politicas consistentes para que a nossas
expressões artísticas regionais, e por essa via as nacionais, fossem
valorizadas e massivamente promovidas, mesmo dentro do País.
Finalmente, e,
Na sequencia dos diferentes naipes que vão sendo
atirados à mesa, queremos acreditar que os olhos de lince do novo Presidente da
República vai detectar e mandar ligar a
tomada, abrir as janelas e escanquerar as portas, para que se faça luz e fé, e se
erga das cinzas, qual fênix, , inclusivo e robusto, o movimento nacional para o
renascimento do mosaico cultural angolano.
Para se corrigir o que está mal e melhorar o que está
bem!
A vêr vamos!
Belmiro Carlos
Músico e compositor
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