Há dias em que um tipo pula da cama com o mundo na mão...
Cheio de soluções mil para problemas carecas, empedernecidos e empoeirados
na prateleira dos sonhos perdidos...
Confiante na redescoberta da roda que lhe vai servir de pólvora para o
disparo da vida, que segundo a divina profecia nos aperta a todos, os calos,
como prova, para os propósito do Nosso Senhor, o Todo Poderoso.
Depois... depois a vida real, nos recorda de que é preciso saber lidar
com esses flashes arrotados pelo nosso cérebro.
Dr José Branco di Cabo, pertence
a primeira geração de angolanos, dos imigrantes das ilhas vulcânicas da zona
temperada do hemisfério sul, nas margens do Índico, que no continente aportou num riquíssimo protetorado
para por “ordens superiores, pôr os indígenas, os autóctenes, no lugar”
Seguiu as pegadas do pai, que tinha fama de matar os indígenas como se
matam as galinhas. Decapitava - os !
Por “ordens superiores” matava os autoctenes separando-lhes a cabeça do
resto do corpo. As cabeças, humanas, usava-as na lubrificação de obsoletas
máquinas, para acelerar a produtividade dos contratados ao serviço da
desenfreada exploração da fauna, da flora e dos minérios do Protectorado. Dos Homens
que à chicotada, e a troco de fuba e peixe podre cavavam a terra com as mãos
calejadas, para a prosperidade do invasor .
Agora, com os novos ventos da civilização moderna os pilares da
cleptocracia começaram a ruir.
O anúncio da nova aurora preocupa o Dr
José Branco di Cabo .
A imagem que criou a partir dos
putrefactos actos chamuscados na lama dos desleais enredos da política crua e nua
da bajulação, manipulação, delapidação do erário público e, das intrigas e
calúnias pérfidas, é agora uma verdadeira assombração espiritual à sua
estabilidade emocional.
“O Homem do Chefe”, como costumava gabar-se em qualquer lugar e
circunstância, desde que existisse plateia, sublinhando cada sílaba com o punho
cerrado e os olhos desorbitados , está em apuros .
Quando foi chamado a substituir o pai, o “Homem do Chefe” fingia-se
amigo e conselheiro das pessoas com quem lidava.
Entretanto e para melhorar a folha de serviço, logo a seguir bufava-os
todos ao Chefe. Destorcendo os factos, inventando calúnias e intrigas, de tal sorte
que poucas famílias não conheceram a dor da maldita e assassina guilhotina do
Estado protector.
Todo o mundo comentava os podres do bufo, mas como era normal por aquelas
bandas, ninguém ousava apontar o dedo ao carrasco.
“O Homem do Chefe” fazia coisas absurdas.
Para além de mentecapto parecia esquizofrénico, ao ponto de escrever ao
Chefe para agradecer o facto de lhe “ser dada a honra de poder respirar o ar
que o criador dos céus e da terra reservou naquele lugar (a Casa Mãe ) para o
querido e iluminado Chefe”. São então tempos de heresia e irracionalidade
institucionalizada. Onde gatunagem é confundida com a esperteza e a honradez
com burrice .
Antes e já nesse clima em que os “testes do sofá” e os “cornos que ajuda
marido ” expiraram como notícia, o “Homem do Chefe” tinha dado o seu show .
Num cinzento dia novembrino, colocou-se estrategicamente de modo a ser
visto e ouvido pelo Chefe, durante a sua retirada que , sabia-se, naquele dia far-se-ia
pelo corredor principal da majestosa Casa Mãe. O habitual era entrar e sair do
“santuário” sem que ninguém lhe pusesse
o olho em cima.
E, quando o Chefe passava , envolvido pelos diligentes guardas-costa, intempestivamente,
o “Homem do Chefe”, o tal de Dr José
Branco di Cabo, ajoelhou-se e em prantos,
como um fanático religioso, foi se desculpando por ter vestido um fato parecido
com o do Chefe, negando qualquer pretensa afronta, e para que dúvidas não
restassem sobre a sua serventia e fidelidade canina , gritou alto e em bom som,
já o Chefe entretanto entrava para a luxuosa limousine: “ pode me castigar,
pode me mandar matar pelo erro que cometi, meu amado e querido Chefe ! ”
O “Homem do Chefe”, o tal Dr José
Branco di Cabo gloriava-se da proeza. A
mensagem tinha passado!
Não bem ao Chefe, que nem sequer lhe dirigiu um olhar, mas a todos
quantos testemunharam o acto.
À esses sim! Sabia que à esses tinha passado a mensagem e que, por isso,
em poucos segundos o Chefe saberia dos detalhes da investida a partir do seu
staff, e de igual modo, às populações do protectorado,
através dos jornais e das redes sociais, chegar-lhes-ia a “surreal confissão
pública”.
O “Homem do Chefe” o tal de Dr
José Branco di Cabo era definitiva e simultaneamente uma pedra e um
adesivo analgésico no sapato dos membros do apparatchik.
A sua indefectível fidelidade nomeava-o para os dossiers mais sujos do
Protectorado, e com isso toda a cumplicidade com o poder.
Por outro lado a sua reconhecida incompetência
para serviços “mais complexos e intelectualmente mais exigentes”, agravada pela
sua nulidade em liderança - apesar de ter apresentado cópia de um diploma de
professor doutor em engenharia espacial, nos recursos humanos, “para efeitos de
actualização da carreira” – afastava-o dos centros de tomada de decisão e por conseguinte
da compreensão das estratégias do Estado.
Mais grave ainda, isso ameaçava o necessário comprometimento oficial e oficioso colectivo para
com “os actos de Estado”.
A presença do Dr José Branco di Cabo causava um visível
desconforto aos membros do Alto Bureau, por enfraquecer a segurança num dos
elos reais da cadeia do poder e mando.
O Dr José Branco di Cabo, nunca
se apercebeu desses sinais da superestrutura, nem nunca avaliou correctamente
os efeitos dos novos ventos que podem abalar fortemente o sistema, por essa
razão, como repositório de segredos do Estado, continua a agir e a pensar que
tem o mundo aos seus pés.
Entretanto, algo lhe cutuca a mente, para que à sua secreta performance
demoníaca associe alguma actividade pública que, enfim , abone à sua imagem os
pergaminhos de um patriota altruísta preocupado com o bem estar das populações.
É assim que, numa dessas noites de insónias em razão de casos mal
resolvidos, despertou carpinteando sonhos, em letras que nos enchem de
esperança.
E, repentinamente uma luz produz um raro
momento de criação naquele “cérebro de meia tijela”.
O “Homem do Chefe”, o tal Dr José
Branco di Cabo elegeu a filantropia, o mecenato cultural e científico, como
alvos.
Porra!... vou ser o Presidente do Instituo de Psicologia Analítica do
Protectorado.
De seguida concentrou-se e vagueou-se ainda no pensamento pelas
associações mais modestas e mais populares como a dos Tocadores de Hungo, das
Crianças Abandonadas, do Combate a Prostituição, mas concluiu, e com alguma razão,
reconheça-se, que “nem morto” se deveria envolver nessas organizações
transformadas em palcos de lamúrias de
sonhos frustrados. “Não sou masoquista, porra”!
O Instituto de Psicologia Analítica discutia na altura com cobertura
mediática massiva e intensa o “Mundo da Física Quântica”.
O Instituto de Psicologia Analítica era a mais prestigiada organização,
não governamental e sem fins lucrativos, do protectorado, com reconhecimento
internacional .
Em três tempos o Dr José Branco di Cabo já lá dentro estava, ”por
ordens superiores”, a liderar um processo para eleições de novos corpos
gerentes.
O Instituo há muito que não renovava os seus corpos gerentes por razões
financeiras e outros do fórum político.
O Dr José Branco di Cabo conhecia bem a psico com
que se cosia o poder e tocou logo por rebentar com a solenidade dos actos da “
academia da elite iluminada” – como gostava de chamar o Instituto, antes de se
decidir pela sua presidencia.
Os gélidos corredores, o sepulcral silêncio, em respeito a nobreza e
seriedade dos sujeitos que o constituem, e à história daquele espaço,
petrificados no formalismo afável das pessoas que aí labutam, começaram a ser substituídos por outros paradigmas,
“por ordens superiores” .
Na verdade não havia ordem superior alguma. Lamentávelmente não havia
como se pôr em dúvida e desmascarar a tal “ordem” da desordem.
É verdade que o Dr José Branco di
Cabo deu a conhecer a sua intenção à
alguns membros do restrito hemiciclo, que o apoiaram, rindo-se à brava às suas
costas.
Também é verdade que da jocosa concordância à “ordens superiores” havia
ainda muita quilometragem por percorrer.
Todavia a irreflectida acção enquadrava-se bem na estratégia de
enfraquecimento dos “antipatriotas” como
eram apelidados pelo Dr José Branco di
Cabo os membros do Instituto.
Depois de alguma resistência interna , “de leve” , o dr José Branco di Cabo tomou conta de toda a
máquina para se fazer eleger.
O homem parecia ter fundido os fusíveis de vez. Os assuntos lhe eram de
todo alheio, mas como era preciso dar a volta a situação. à qualquer preço...
Transformou o assunto das eleições do Instituo de Psicologia Analítica
num problema político.
Mandou vir conterrâneos das ilhas para introduzir na população eleitoral
e arregimentou apócrifos escribas para o trabalho sujo na imprensa e nas redes
sociais.
A famigerada máquina elegeu a calúnia, a intriga a manipulação como armas de arremesso contra os seus concorrentes.
O “Homem do Chefe” o tal Dr José
Branco di Cabo através de “ordens superiores” consegue o apoio de toda a
máquina do Estado.
De helicóptero desdobra-se por todo o Protectorado.
Onde chega, os seus anedóticos conselheiros vomitam o seu fel sobre os
adversários, isso quando não é o próprio “Homem do Chefe”.
Com os sobas locais, por “orientações superiores” são organizadas farras bem regadas com barris de
vinho e tamborões de cerveja, que acabam em orgias colectivas, com mangas de
dez, em hotéis de luxo, pagas com o dinheiro do Estado.
Alguns rostos locais do mundo da física, por “orientação superior”
alinham na farsa do Dr José Branco di
Cabo e não se coíbem mesmo em dar a cara nos jornais de maior tiragem, e em
programas televisivos em rede nacional, e fazem aos adversários acusações descaradas
ou veladas que não têm provas nem nunca antes tiveram conhecimento.
A divisa é sujar, quebrar, matar, os adversários, a qualquer custo, de
acordo com “orientações superiores”.
Num ápice a campanha que deveria
ser uma discussão urbana sobre as estratégias para o estudo dos fenómenos das
partículas atómicas e subatómicas sob a óptica da física clássica e quântica,
os programas e planos de desenvolvimento da actividade do Instituto, etc.,etc.,
passa a ser um palco para o insulto barato, a acusação gratuita, a manipulação
dos factos para a desacreditação dos do outro lado da barricada, enfim era só “discurso
rosqueiro”.
O “Homem do Chefe”, o tal Dr José
Branco di Cabo e seus acólitos transformaram-se num grupo fundamentalista.
Estam todos em sintonia e repetem indiscriminada
e irresponsavelmente os insultos e as acusações.
Os órgãos criados para dirigir o processo estão indiferentes à maldita cruzada.
E, o que é mais grave, por “orientações superiores” alinham também no jogo e fazem
declarações desencontradas, fortuitas, e assumem assim a imparcialidade , tornando-se ineficazes à
estratégia dos fundamentalistas.
O processo está declaradamente inclinado.
O clima eleitoral está visivelmente tenso !
Com os novos ventos, os pilares da corrupção, do tráfico de influência,
da cleptocracia começaram a ruir, e o processo pode descarrilar, com
consequências imprevisíveis.
Mas, a campanha eleitoral continua ao rubro!
(Continua)
Belmiro Carlos (Nito)
http://belmirocarlos.blogspot.com/
PS: Esta estória é pura ficção. Qualquer semelhança de nomes e factos é
mera coincidência.
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