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quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

“ORDENS SUPERIORES” A MÁSCARA QUE ENGOLIA SONHOS

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Há dias em que um tipo pula da cama com o mundo na mão...

Cheio de soluções mil para problemas carecas, empedernecidos e empoeirados na prateleira dos sonhos perdidos...

Confiante na redescoberta da roda que lhe vai servir de pólvora para o disparo da vida, que segundo a divina profecia nos aperta a todos, os calos, como prova, para os propósito do Nosso Senhor, o  Todo Poderoso.

Depois... depois a vida real, nos recorda de que é preciso saber lidar com esses flashes arrotados pelo nosso cérebro.

Dr  José Branco di Cabo, pertence a primeira geração de angolanos, dos imigrantes das ilhas vulcânicas da zona temperada do hemisfério sul, nas margens do Índico,  que no continente aportou num riquíssimo protetorado para por “ordens superiores, pôr os indígenas, os autóctenes, no lugar”

Seguiu as pegadas do pai, que tinha fama de matar os indígenas como se matam as galinhas.  Decapitava - os !

Por “ordens superiores” matava os autoctenes separando-lhes a cabeça do resto do corpo. As cabeças, humanas, usava-as na lubrificação de obsoletas máquinas, para acelerar a produtividade dos contratados ao serviço da desenfreada exploração da fauna, da flora e dos minérios do Protectorado. Dos Homens que à chicotada, e a troco de fuba e peixe podre cavavam a terra com as mãos calejadas, para a prosperidade do invasor .

Agora, com os novos ventos da civilização moderna os pilares da cleptocracia começaram a ruir.

O anúncio da nova aurora preocupa o Dr  José Branco di Cabo .

A imagem que criou a partir  dos putrefactos actos chamuscados na lama dos desleais enredos da política crua e nua da bajulação, manipulação, delapidação do erário público e, das intrigas e calúnias pérfidas, é agora uma verdadeira assombração espiritual à sua estabilidade emocional.

“O Homem do Chefe”, como costumava gabar-se em qualquer lugar e circunstância, desde que existisse plateia, sublinhando cada sílaba com o punho cerrado e os olhos desorbitados , está em apuros .

Quando foi chamado a substituir o pai, o “Homem do Chefe” fingia-se amigo e conselheiro das pessoas com quem lidava.

Entretanto e para melhorar a folha de serviço, logo a seguir bufava-os todos ao Chefe. Destorcendo os factos, inventando calúnias e intrigas, de tal sorte que poucas famílias não conheceram a dor da maldita e assassina guilhotina do Estado protector.

Todo o mundo comentava os podres do bufo, mas como era normal por aquelas bandas, ninguém ousava apontar o dedo ao carrasco.

“O Homem do Chefe” fazia coisas absurdas.

Para além de mentecapto parecia esquizofrénico, ao ponto de escrever ao Chefe para agradecer o facto de lhe “ser dada a honra de poder respirar o ar que o criador dos céus e da terra reservou naquele lugar (a Casa Mãe ) para o querido e iluminado Chefe”. São então tempos de heresia e irracionalidade institucionalizada. Onde gatunagem é confundida com a esperteza e a honradez com burrice .

Antes e já nesse clima em que os “testes do sofá” e os “cornos que ajuda marido ” expiraram como notícia, o “Homem do Chefe” tinha dado o seu show .

Num  cinzento dia novembrino,  colocou-se estrategicamente de modo a ser visto e ouvido pelo Chefe, durante a sua retirada que , sabia-se, naquele dia far-se-ia pelo corredor principal da majestosa Casa Mãe. O habitual era entrar e sair do “santuário”  sem que ninguém lhe pusesse o olho em cima.

E, quando o Chefe passava , envolvido pelos diligentes guardas-costa, intempestivamente, o “Homem do Chefe”, o tal de Dr  José Branco di Cabo,  ajoelhou-se e em prantos, como um fanático religioso, foi se desculpando por ter vestido um fato parecido com o do Chefe, negando qualquer pretensa afronta, e para que dúvidas não restassem sobre a sua serventia e fidelidade canina , gritou alto e em bom som, já o Chefe entretanto entrava para a luxuosa limousine: “ pode me castigar, pode me mandar matar pelo erro que cometi, meu amado e querido Chefe !  

O “Homem do Chefe”, o tal Dr  José Branco di Cabo gloriava-se da proeza.  A mensagem tinha passado!

Não bem ao Chefe, que nem sequer lhe dirigiu um olhar, mas a todos quantos testemunharam o acto.

À esses sim! Sabia que à esses tinha passado a mensagem e que, por isso, em poucos segundos o Chefe saberia dos detalhes da investida a partir do seu staff,   e de igual modo, às populações do protectorado, através dos jornais e das redes sociais, chegar-lhes-ia a “surreal confissão pública”.

O “Homem do Chefe” o tal de Dr  José Branco di Cabo era definitiva e simultaneamente uma pedra e um adesivo analgésico no sapato dos membros do apparatchik.

A sua indefectível fidelidade nomeava-o para os dossiers mais sujos do Protectorado, e com isso toda a cumplicidade com o  poder.

Por outro lado  a sua reconhecida incompetência para serviços “mais complexos e intelectualmente mais exigentes”, agravada pela sua nulidade em liderança - apesar de ter apresentado cópia de um diploma de professor doutor em engenharia espacial, nos recursos humanos, “para efeitos de actualização da carreira” – afastava-o dos centros de tomada de decisão e por conseguinte da compreensão das estratégias do Estado.

Mais grave ainda, isso ameaçava o necessário  comprometimento oficial e oficioso colectivo para com “os actos de Estado”.

A presença do   Dr  José Branco di Cabo causava um visível desconforto aos membros do Alto Bureau, por enfraquecer a segurança num dos elos reais da cadeia do poder e mando.

O Dr  José Branco di Cabo, nunca se apercebeu desses sinais da superestrutura, nem nunca avaliou correctamente os efeitos dos novos ventos que podem abalar fortemente o sistema, por essa razão, como repositório de segredos do Estado, continua a agir e a pensar que tem o mundo aos seus pés.

Entretanto, algo lhe cutuca a mente, para que à sua secreta performance demoníaca associe alguma actividade pública que, enfim , abone à sua imagem os pergaminhos de um patriota altruísta preocupado com o bem estar das populações.

É assim que, numa dessas noites de insónias em razão de casos mal resolvidos, despertou carpinteando sonhos, em letras que nos enchem de esperança.

 E, repentinamente uma luz produz um raro momento de criação naquele “cérebro de meia tijela”.

O “Homem do Chefe”, o tal Dr  José Branco di Cabo elegeu a filantropia, o mecenato cultural e científico, como alvos.

Porra!... vou ser o Presidente do Instituo de Psicologia Analítica do Protectorado.

De seguida concentrou-se e vagueou-se ainda no pensamento pelas associações mais modestas e mais populares como a dos Tocadores de Hungo, das Crianças Abandonadas, do Combate a Prostituição, mas concluiu, e com alguma razão, reconheça-se, que “nem morto” se deveria envolver nessas organizações transformadas em palcos  de lamúrias de sonhos frustrados. “Não sou masoquista, porra”!

O Instituto de Psicologia Analítica discutia na altura com cobertura mediática massiva e intensa o “Mundo da Física Quântica”.

O Instituto de Psicologia Analítica era a mais prestigiada organização, não governamental e sem fins lucrativos, do protectorado, com reconhecimento internacional .

 Em três tempos o Dr  José Branco di Cabo já lá dentro estava, ”por ordens superiores”, a liderar um processo para eleições de novos corpos gerentes.

O Instituo há muito que não renovava os seus corpos gerentes por razões financeiras e outros do fórum político.

O Dr  José Branco di Cabo conhecia bem a psico com que se cosia o poder e tocou logo por rebentar com a solenidade dos actos da “ academia da elite iluminada” – como gostava de chamar o Instituto, antes de se decidir pela sua presidencia.

Os gélidos corredores, o sepulcral silêncio, em respeito a nobreza e seriedade dos sujeitos que o constituem, e à história daquele espaço, petrificados no formalismo afável das pessoas que aí labutam,  começaram a ser substituídos por outros paradigmas, “por ordens superiores” .

Na verdade não havia ordem superior alguma. Lamentávelmente não havia como se pôr em dúvida e desmascarar a tal “ordem” da desordem.

É verdade que o Dr  José Branco di Cabo deu  a conhecer a sua intenção à alguns membros do restrito hemiciclo, que o apoiaram, rindo-se à brava às suas costas.

Também é verdade que da jocosa concordância à “ordens superiores” havia ainda muita quilometragem por percorrer.

Todavia a irreflectida acção enquadrava-se bem na estratégia de enfraquecimento  dos “antipatriotas” como eram apelidados pelo Dr  José Branco di Cabo os membros do Instituto.

Depois de alguma resistência interna , “de leve” , o dr  José Branco di Cabo tomou conta de toda a máquina para se fazer eleger.

O homem parecia ter fundido os fusíveis de vez. Os assuntos lhe eram de todo alheio, mas como era preciso dar a volta a situação. à qualquer preço...

Transformou o assunto das eleições do Instituo de Psicologia Analítica num  problema político.

Mandou vir conterrâneos das ilhas para introduzir na população eleitoral e arregimentou apócrifos escribas para o trabalho sujo na imprensa e nas redes sociais.

A famigerada máquina elegeu a calúnia, a intriga a manipulação como  armas de arremesso contra os seus concorrentes.

O “Homem do Chefe” o tal Dr  José Branco di Cabo através de “ordens superiores” consegue o apoio de toda a máquina do Estado.

De helicóptero desdobra-se por todo o Protectorado.

Onde chega, os seus anedóticos conselheiros vomitam o seu fel sobre os adversários, isso quando não é o próprio “Homem do Chefe”.

Com os sobas locais, por “orientações superiores” são  organizadas farras bem regadas com barris de vinho e tamborões de cerveja, que acabam em orgias colectivas, com mangas de dez, em hotéis de luxo, pagas com o dinheiro do Estado.

Alguns rostos locais do mundo da física, por “orientação superior” alinham na farsa do Dr  José Branco di Cabo e não se coíbem mesmo em dar a cara nos jornais de maior tiragem, e em programas televisivos em rede nacional, e fazem aos adversários acusações descaradas ou veladas que não têm provas nem nunca antes tiveram conhecimento.

A divisa é sujar, quebrar, matar, os adversários, a qualquer custo, de acordo com “orientações superiores”.

Num ápice a campanha  que deveria ser uma discussão urbana sobre as estratégias para o estudo dos fenómenos das partículas atómicas e subatómicas sob a óptica da física clássica e quântica, os programas e planos de desenvolvimento da actividade do Instituto, etc.,etc., passa a ser um palco para o insulto barato, a acusação gratuita, a manipulação dos factos para a desacreditação dos do outro lado da barricada, enfim era só “discurso rosqueiro”.

O “Homem do Chefe”, o tal Dr  José Branco di Cabo e seus acólitos transformaram-se num grupo fundamentalista. Estam  todos em sintonia e repetem indiscriminada e irresponsavelmente os insultos e as acusações.

Os órgãos criados para dirigir o processo estão indiferentes à maldita cruzada. E, o que é mais grave, por “orientações superiores” alinham também no jogo e fazem declarações desencontradas, fortuitas, e assumem assim  a imparcialidade , tornando-se ineficazes à estratégia dos fundamentalistas.

O processo está declaradamente inclinado.

O clima eleitoral está visivelmente tenso !

Com os novos ventos, os pilares da corrupção, do tráfico de influência, da cleptocracia começaram a ruir, e o processo pode descarrilar, com consequências imprevisíveis.

Mas, a campanha eleitoral continua ao rubro!

(Continua)
Belmiro Carlos (Nito)
http://belmirocarlos.blogspot.com/

PS: Esta estória é pura ficção. Qualquer semelhança de nomes e factos é mera coincidência.

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